Trilogia do Futuro

    saudade do futuro

    (Trilogia do Futuro - momento de solidão)

    saudade do futuro
    daquelas incríveis máquinas de pensar
    de chorar
    de sentir 

    saudade do futuro
    vinte ou trinta anos
    me separam de mim mesmo
    me separam da modernidade 

    saudade do futuro
    me corroí essa agonia
    essa pressa
    esse presente medieval
    saudade 

    prisioneiro de um tempo incompatível
    prisioneiro de um amor moderno e medieval
    prisioneiro de você 

    saudade do futuro
    do amor que virá 

    e essas incríveis máquinas de pensar?
    e essas incríveis pessoas de amar?
    e essa dor? 

    confluência do futuro
    ausente
    e você

    Vladimir Campos
    29.04.1996

    * Originalmente publicado no meu antigo site DigiCampos.com


    loucura de bell

    (Trilogia do Futuro - momento de tristeza)

    estranhos pulsos
    ondas eletromagnéticas
    levam minha voz
    nossa voz
    sua voz
    sua presença virtual
    que mata e alimenta minha saudade 

    estranhas ondas de energia
    viajando ao compasso de sessenta, setenta,
    cem batidas por segundo
    ao compasso de um beijo imaginário
    de um abraço impossível
    contato intangível…
    …moderno, pois 

    moderno?
    loucura, bell! 

    loucura nossa
    querendo o que está tão longe
    porque parece perto
    por que?
    por que bell? 

    loucura nossa
    ainda não aprendemos
    nada sabemos sobre a modernidade
    trivial: uma ligação telefônica
    o descompasso de uma geração inteira 

    quase posso te ver
    quase posso sorrir
    quase posso te beijar… 
    …quase posso te tocar 

    e seguimos perdidos
    nessa desordem virtual de comunicação
    nessa desordem real da razão
    somos herdeiros da american telephone & telegraph

    Vladimir Campos
    27.12.1995

    * Originalmente publicado no meu antigo site DigiCampos.com


    outro.poema@eletronico

    (Trilogia do Futuro - momento de revolta)

    moderno
    transitorio
    fugaz…
    …efemero

    compatibilidade total
    a ultima revolucao de costumes
    a ultima moda

    e a gente nem se ve
    nao se fala, nao se beija
    nao se ama
    se entende, se atura
    se compreende
    loucura!

    e voce tao classica e eu tao moderno—na vida
    e eu tao classico e voce tao moderna—no amor
    loucura!

    loucura eletronica…
    matou o ultimo poema shakespeariano
    o ultimo amor
    o ultimo suspiro da maquina de escrever
    da caneta Mont Blanc

    e ultima rosa do jardim
    digitalizada
    perpetuada sem perfume
    causou eterno sofrimento no poeta
    que morreu datilografando o ultimo poema
    —que foi transcrito,
    tambem digitalizado,
    imortalizado
    como o poeta nao queria—
    derramando a ultima lagrima passional da ultima amada
    que por sua vez tambem foi digitalizada

    por fim,
    o amor foi compactado, restrito a um arquivo qualquer
    de uma ala qualquer
    de um museu qualquer
    da world wide web…

    Vladimir Campos
    30.10.1995

    “Donde conclui-se que somos a última geração de uma velha civilização e a primeira geração de uma nova, que grande parte de nossa confusão pessoal, angustia e desorientação pode ser diretamente atribuída ao nosso conflito interno e ao conflito no cerne de nossas instituições políticas, entre a civilização agonizante da Segunda Onda e a civilização emergente da Terceira Onda clamando para assumir o seu lugar.

    Quando, finalmente, compreendermos isso, muitos eventos aparentemente sem sentido de repente tornar-se-ão compreensíveis. (…) Em suma, a premissa revolucionária libera nosso intelecto e nossa vontade.

    —Alvin Toffler (Criando uma nova Civilização)

    * Originalmente publicado no meu antigo site DigiCampos.com